Saudações Metalheads.
Supremacia Rock Entrevista, Arguerom, banda de Doom Metal Progressivo de Brasília. Me chamo Bruno Lacerda, estarei à frente dessa entrevista com vocês, obrigado pela oportunidade e tempo concedido para esse bate papo.
Perguntas:
1-ARGUEROM apresenta uma fusão rica de vários subgêneros do Heavy Metal. Como vocês equilibram essa variedade para criar uma identidade coesa que represente a banda?
Olá, Metalheads! Primeiramente obrigada pelo convite, Bruno. Meu nome é Marcella Meguria, vocalista e fundadora da banda Arguerom.
Acredito que essa fusão é inevitável devido às influências de todos os membros que passam pela maioria dos subgêneros. Queríamos justamente usar essa variedade individual no resultado final, assim talvez seja essa a identidade na sutileza de como pensamos música de modo geral e não nos subgêneros em si.
2- O que motivou a decisão de reunir as composições que estavam em desenvolvimento desde 2020? Houve um momento específico ou experiência que catalisou essa união criativa?
A ideia é mais antiga que a própria Arguerom como está agora. Eu nunca achava as pessoas que aceitassem tocar essas melodias. Eu sempre ouvia que era complexo demais, confuso demais, esquisito demais e ninguém ficava pra tentar.
Algumas dessas composições que eu já havia foram matriz direta de “Eternal Return” e “Living In My Creation”, mas faltavam elementos musicais que eu sozinha não queria fazer pra não ficar só com a minha cara, eu precisava de mais personalidade, foi então que juntei velhos amigos com novos amigos e a coisa foi tomando uma forma.
Confira 'Eternal Return":
https://www.youtube.com/watch?v=_rj_Hx9Wfcc
Eu sempre quis ter uma banda autoral, falar sobre meu modo de enxergar o universo, quando encontrei as pessoas certas, o projeto já era um desejo, um sonho, só foi preciso colocar em prática.
Confira 'Living In My Creation':
https://www.youtube.com/watch?v=u-dGTykEBc8
3- Quais bandas ou artistas foram fundamentais para a formação do som de ARGUEROM e como suas influências se manifestam no álbum "Elusive"?
Da minha parte, eu sempre fui muito fã de Tristania, principalmente na era Vibeke Stene e também estava ouvindo muito Draconian. Como influência comum de todos Dream Theater, Symphony X, Death, The Sins of Thy Beloved, Epica, Angra, Shaman, entre muitas outras.
A faixa “Elusive” - título do álbum - em especial teve muita influência de Draconian, mas tem música que você nem imaginaria a referência, por exemplo Little Child foi inspirada em Animate do Rush (???) e eu nem escuto Rush kkkk.
Confira 'Little Child':
https://www.youtube.com/watch?v=te7Q-mVNgIk
4- Pode nos contar sobre a abordagem lírica do álbum? Que temas ou questões vocês exploram em "Elusive" e como essas reflexões se ligam ao contexto atual?
A base é existencialista e as faixas se lidas na ordem, representam 3 fases de um “Eu” lírico que começa tendo uma experiência de catalepsia do sono logo em “3 am”, já em “Outcast” o Eu lírico tem um insight onde se sente afastado da própria vida, incapaz de se sentir protagonista de si mesmo.
Em “Living In My Creation” ocorre uma negação da realidade onde “o inferno são os outros” (Sartre) faz com que o indivíduo se feche em si na loucura de criar a própria realidade. A segunda parte começa com “Reality” que representa o interesse por filosofia e estudos que fazem ver a vida por várias perspectivas, logo em “Eternal Return” é percebido que a vida se move em ciclos.
Em “Elusive”, recria conceitos de luz e sombras, decidindo enfrentar a escuridão e descobrir o que estava lá escondido em meio as revoltas e injustiças.
O último ciclo é representado por “Little Child”, o encontro da criança interior em meio a essas sombras, perdoando-se e decidindo seguir em frente ao perceber que mesmo em sua solitude, não estava sozinho mediante as experiências da vida, onde até um inimigo tem seu valor, por exemplo.
Confira '3 am':
https://www.youtube.com/watch?v=aJpXV-PKBBo
Confira 'Outcast':
https://www.youtube.com/watch?v=FjsLmcB8mFE
Confira 'Reality':
https://www.youtube.com/watch?v=A1Va8j147uE
O final é uma resolução em “Cloudless Skies”, com referências ao primeiro ciclo de Carmina Burana (O Fortuna e Fortune Plango), o “Eu” lírico encontra a sua paz representada pelo céu limpo após a tempestade, mas com a ressalva de que a vida é cíclica, então aproveita-se as boas venturas, sabendo que na roda da fortuna, uma vez está em cima e outra está embaixo.
Confira 'Cloudless Skies':
https://www.youtube.com/watch?v=y4by_8lKEa8
Acho que o autoconhecimento é sempre um tema atual, principalmente quando estamos diante de mudanças rápidas e tecnológicas, sociopolíticas e climáticas como hoje.
5- A entrada de Daniel Neves na bateria trouxe novas dinâmicas para a banda. Como isso impactou a sonoridade e a composição das músicas que estão no álbum?
Curiosamente as linhas de bateria já estavam escritas e o álbum já estava no estúdio quando ele entrou. Mas a presença dele foi indescritivelmente fundamental, já que, com as músicas já prontas, eu recebi vários “nãos” de vários bateristas que achavam as músicas muito desafiadoras. Daniel só olhou e falou: “é pra quando?”. Ele entrou de cabeça percebendo cada detalhe e fazendo ainda melhor nas versões ao vivo. Apesar de não ter criado efetivamente as composições do primeiro álbum, ele foi aprendendo um pouco das nossas influências e está totalmente integrado com o nosso estilo.
Eu passei uma composição nova para ele inserir a bateria. Já continha a letra, melodias de vozes e detalhes na harmonia. Ele sintetizou tudo o que a gente era, foi lindo de ver e ouvir, mas vocês só irão conhecê-la quando estiver totalmente pronta. Então acho que ele captou a essência que a gente queria, fora que ele é super estudioso e é incrível no que faz.
6- Quais foram os maiores desafios que vocês enfrentaram durante o processo de gravação do álbum e como conseguiram superá-los?
Foi só falar “estúdio” e automaticamente essa palavra invocou vários problemas de saúde nos membros da banda. Eu, por exemplo, tive uma crise de refluxo que fez minhas pregas vocais incharem e ter uma fenda posterior, precisei pausar as gravações para poder tratar.
Tivemos o estado de cuidados da fibromialgia do guitarrista Lucas também. Questões individuais de trabalho do baixista Jefferson e Felipe paralelamente.
Demoramos mais do que imaginávamos para captar tudo.
A mixagem foi mais rápida, tivemos alguns desafios com as referências de mixagem e forma como tocamos, foi confuso até pra gente encontrar os timbres perfeitos. No fim, escolhemos o caminho mais simples, com o mínimo de efeitos especiais possível e deu certo na medida do que podia dar certo.
7- Como vocês veem a transição das músicas do álbum para o palco? Há alguma expectativa ou estratégia especial para a performance ao vivo que desejam compartilhar?
Foi bem desafiador. A gente tocava e ninguém “entendia” nosso som, mas a gente foi se entendendo aos poucos, ajeitando os timbres. O Jeff (baixo) por exemplo, começou tocando com um baixo de 5 cordas, mas acabou migrando para um de 6.
A guitarra do Felipe precisou ser trocada algumas vezes até que encontrássemos o tipo que mais se encaixaria.
A guitarra do Lucas precisou ser reformada para atingir a harmonia que precisávamos.
A bateria precisou de vários detalhes para chegar a um resultado que não soasse mais alto que todo o resto.. E no meu caso, eu precisei de muito condicionamento físico, a ponto de eu me questionar o porquê de ter feito tanta coisa difícil.
Mas hoje a gente já está bem habituado com as músicas, e estamos felizes com os resultados.
8- Desde o lançamento de "Elusive", qual tem sido a recepção do público e da crítica? Algum feedback específico foi especialmente significativo para vocês?
Só depois que resolvemos os detalhes entre estúdio e ao vivo as pessoas passaram a elogiar. Nos shows sempre percebemos as pessoas se aproximando com um ar de curiosidade e percebemos a galera batendo cabeça e às vezes tentando cantar junto alguma coisa (falo tentando, pois sei que nossas músicas não são conhecidas).
Entre amigos rolou um fenômeno interessante: cada um tomou como preferida uma música diferente (ponha diferente nisso, sabemos que nossas faixas são totalmente distintas umas das outras), mas o consenso está na faixa “Elusive” que consegue atrair mais olhares, digo, ouvidos, creio eu.
Confira o vídeo de 'Elusive':
https://www.youtube.com/watch?v=MxVsyu0eV4s
Não à toa ganhou um videoclipe dedicado a exprimir o melhor dela. Foi gravado com um parceiro incrível chamado Adriano Ferreira (Sensohy)! Da crítica especializada dos músicos, promotores de eventos e produtores musicais, ficamos no mix de curiosos e felizes, pois ouvimos que soamos muitas vezes Thrash Metal para nossa surpresa e mais pesado ainda até. Possibilitou assim parcerias em festivais de Black e Death Metal abrindo a gama de público em nosso trabalho.
9- O que os fãs podem esperar do ARGUEROM nos próximos anos? Há planos para novos projetos, colaborações ou evolução do som da banda?
Com certeza podem esperar músicas novas! Estamos iniciando um álbum de 8 faixas. Iniciamos as composições e pretendemos usar esse período de fim de ano para levá-las aos nossos ensaios, o quão logo elas estiverem “tocáveis” já vamos gravar.
Ainda não posso revelar com quem vamos gravar, mas se nos acompanharem nas redes sociais em breve haverão spoilers. Sobre colaborações, pretendemos manter as participações de cantores líricos maravilhosos que conhecemos na nossa caminhada.
A respeito do som, pretendemos caminhar para um lado ligeiramente mais sombrio, abraçando o doom, com bastante emoção e o peso que a gente gosta. Podem esperar por blast beats, guturais, vocais líricos, coros de diversas formas, fraseados virtuosos, breaks downs, e letras bem existencialistas.
10- Por fim, se você pudesse descrever o legado que gostaria que ARGUEROM deixasse na cena do Metal Brasileiro, qual seria e por que isso é importante para vocês como banda?
Eu particularmente acredito que queremos mostrar principalmente o que aprendemos com nossos ídolos, com as bandas que ouvíamos desde a mais tenra idade. Depois de começar a compor, percebi que o doom metal estava mais presente dentre nossas influências, mesmo nas bandas que não se autodenominam como Doom, nossas preferências referenciam as faixas que são mais doom. Portanto, decidimos agregar essa nuance nas nossas músicas. Mas não tem como não misturar um pouco de tudo. Tem um detalhe que gosto de ter nas músicas que é uma brasilidade sutil.
Eu quero que as pessoas escutem, percebam que é genuinamente Metal, mas nas entrelinhas tem um cromatismo típico brasileiro, uma síncope bem discreta, e que faz referência às músicas tradicionais Brasileiras como o choro, a bossa, o forró. Tudo isso de forma ultra sutil, pulsante e intrínseco ao nosso som.
Na faixa “Reality”, o fraseado lembra um choro, por exemplo, mas ninguém diz que aquela música não é metal genuinamente. E não posso deixar de mencionar a influência do Mário Linhares. Ele foi meu primeiro professor de canto e sempre me incentivou a ter minha própria identidade vocal e sempre fez questão de entregar música de qualidade e com significado, e eu gostaria de tentar fazer boas músicas no gênero Heavy Metal pra mostrar ao mundo que aqui ainda tem muita música de qualidade.
Vocal: Marcella Meguria
Guitarra: Lucas Rafael
Guitarra: Felipe Alves
Baixo: Jefferson Belarmino
Bateria: Daniel Neves
Entrevista concedida por: Marcella Meguria
Entrevistada por: Bruno Lacerda
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