Supremacia Rock Entrevista FINITA.
Saudações, me chamo Bruno Lacerda, estarei conduzindo essa entrevista.
Primeiramente obrigado pelo tempo cedido para essa entrevista, é um prazer conhecê-los.
Na entrevista de hoje estaremos batendo um papo com o pessoal da banda FINITA, banda de Symphonic Gothic Metal de Santa Maria-RS(Brasil).
Perguntas:
1. Qual a principal inspiração por trás da sonoridade única da banda que mistura metal extremo com elementos melódicos e clássicos?
Agradecemos imensamente pela oportunidade e pela menção à “sonoridade única”. É certamente algo que buscamos sempre. A arte só é arte se é única. Se não for único, é cópia ou produto. Assim, cada composição é uma expressão que exige interpretação e doação de cada um de nós. Individualmente, temos histórias e influências muito diversas, o que contribui para tornar nosso som em si único, por assim dizer.
2. Como vocês descreveriam a evolução musical desde o lançamento do single “The Other Face” até o mais recente EP “Above Chaos”?
São 12 anos de aprendizado. Sobre evolução musical, podemos citar a experiência com shows e gravação. Cada nova produção agrega conhecimento e percepção. Todo o feedback dos produtores, técnicos de som, das bandas que tocamos junto e do público certamente nos auxiliaram a refinar também o nosso gosto. Além disso, melhoramos nossos equipamentos e buscamos nos profissionalizar cada vez mais.
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3. A presença de uma frontwoman versátil é um diferencial para a banda. Como isso influencia a dinâmica das composições e performances ao vivo?
É uma dádiva e ao mesmo tempo um desafio. A Luana é um fenômeno e isso dá uma liberdade gigante para a composição. Por outro lado, é sempre um desafio criar algo que ressalte essa versatilidade sem perder a organicidade.
A transição entre as técnicas tem que ser bem pensada para que a história que cada música conta faça sentido. Sobre as performances ao vivo, buscamos entregar performance e identidade, mas a verdade é que cada um está curtindo e expressando aquilo que realmente sente.
A Luana é uma artista completa e tem uma expressão única, trazendo uma presença valiosa à frente do palco.
4. As letras abordam temas como filosofia, ocultismo e mitologias. Como esses elementos são escolhidos e trabalhados dentro do processo criativo da banda?
São temas que nos interessam desde sempre, mas podemos dizer que o processo criativo começa com o nosso guitarrista, que tem formação em filosofia e isso certamente influencia no desenvolvimento dos temas. O Portela apresenta um protótipo de letra e música. São sempre histórias ou conceitos abertos e todos se envolvem na composição de novos caminhos. O resultado é uma arte que tem a assinatura de todo mundo.
5. O que vocês consideram mais desafiador ao trazer elementos teatrais para as performances ao vivo?
Trazer algo diferente sempre dá trabalho. Desde carregar elementos de palco, criar figurinos e o próprio processo de maquiagem. Nesses últimos anos tivemos vários desafios nesse sentido, principalmente nos lugares em que não tinha um camarim ou que as mudanças repentinas de horário de shows mudaram nossa dinâmica. Mas são detalhes, afinal, nos divertimos muito com essa função toda.
6. No álbum “Voices From Sanatorium”, qual foi a principal mensagem que vocês esperavam transmitir sobre as diferentes construções narrativas no mundo?
A mensagem é que o tempo em que vivemos está tirando nossa sanidade. Tentamos construir uma narrativa própria, dar um sentido para a própria existência. Contudo, é muito difícil não cair nas armadilhas desse mundo doente. Cada música traz uma faceta dessa realidade: a narrativa do fanático religioso, do suicida, do patriota, do homicida possessivo que mata, pasmem, “por amor”. Essas músicas são, na verdade, denúncias dessa insanidade e um chamado para a reflexão e busca por autonomia.
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7. A figura de Lúcifer no EP “Lie” é reimaginada sob uma nova perspectiva. O que motivou essa abordagem e como ela ressoou com os ouvintes?
O motivo é sempre filosófico. O conceito tradicional de Deus é a perfeição (onipotente, onipresente e onisciente). Esse Deus criador é infalível e não pode ter gerado aquilo que lhe é contrário, ou seja, o mal. Santo Agostinho, por exemplo, assume que o mal ontologicamente não pode existir por esse mesmo motivo.
Temos que explicar, portanto, o que é essa figura de Lúcifer a partir de uma perspectiva filosoficamente aceitável. Nas escrituras pouco se fala sobre Lúcifer e sua queda ou mesmo sobre o inferno. Há algumas simbologias muito abertas e exploradas por teólogos e poetas que criaram a nossa concepção de Lúcifer.
O que fizemos foi retomar alguns episódios bíblicos importantes e tentar repensá-las a partir de um plano divino (devido a sua onisciência) e de que forma Lúcifer fez parte desses episódios e como ele interage com o mundo desde sua chegada até sua partida.
A recepção do público foi bem interessante, as pessoas têm muita curiosidade sobre essa temática. Alguns gostam de discutir os temas das letras, mas a verdade é que há uma associação de Lúcifer à liberdade e à rebeldia e isso ressoa muito bem a quem adotou o metal como estilo de vida.
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8. Em “Above Chaos”, a incorporação de elementos regionais foi uma escolha consciente. Como esses elementos regionais influenciam a identidade da banda?
A influência da música gaúcha é antiga e geralmente se revela em algumas escolhas de progressões harmônicas na composição e também na ambientação das teclas do Guilherme, que é filho de músico nativista e trouxe essa experiência de casa.
A produção do Above ficou por conta do grande Bruno Añaña (Rebaellium/Postmortem), que nos deu muita tranquilidade e liberdade para explorar esses elementos e incentivou a utilização do violão e da gaita nos sons.
Essas influências certamente trazem um tempero para a música que torna ela diferente.
9. Com a produção do álbum “Children of the Abyss” nas mãos de Thiago Bianchi, que tipo de inovação vocês esperam trazer para a música?
Primeiramente, fomos contatados pela equipe do Estúdio Fusão e foi uma grata surpresa. Não é preciso apresentar o Bianchi, o cara tem uma experiência incrível e girou o mundo algumas vezes como músico e produtor. A inovação, sendo bem breve, é uma produção semelhante ao que se tem no mainstream, gravada em um estúdio fantástico e com direito a orquestração. Aliás, toda a equipe que está produzindo esse álbum trabalha com bandas gigantes como Angra, Shaman e Noturnall. Então temos a orquestração feita pelo Greg, artes da capa e do encarte pelo Fides.
Em suma, não sabemos se vamos morrer amanhã, queríamos ter essa experiência e deixar para o nosso público esse registro especial.
10. O conceito de magia e o retorno das bruxas são temas atuais em diversas esferas.
Como esses tópicos se relacionam com a mensagem da banda?
Nossos trabalhos anteriores trouxeram Lúcifer como protagonista. Nessa narrativa, a ascensão dele traz dissonância aos mundos, permitindo que entidades antes ocultas, como as bruxas, possam por aqui transitar. Estamos trabalhando com essas simbologias pensando em todos que se permitem enxergar mais longe. É visível que o mundo não é uma redução materialista e que há algo diferente que perpassa a existência, ainda que muitos permaneçam adormecidos para isso.
Nossa ideia é utilizar essa temática das bruxas e da magia para tocar em questões filosóficas mais profundas e tentar encontrar aqueles que enxergam e despertar os que ainda mantém os olhos fechados.
11. A colaboração com Pablo Greg para orquestração e Carlos Fides para a arte visual: como essas parcerias enriquecerão o conceito do novo álbum?
Eles são artistas incríveis e possuem assinaturas próprias. Ambos foram muito sensíveis e atentos ao compreender a ideia que permeia o álbum e souberam desenvolver excelentes trabalhos. Especificamente, tivemos uma conversa longa e descontraída com o Greg sobre expectativas conceituais e referências. O resultado foi sensacional.
Com o Fides tínhamos uma ideia de arte e o título do álbum para dar início ao processo, mas rapidamente tomamos outro rumo e o Fides nos apresentou essa arte fantástica.
12. Qual é a expectativa da banda em relação ao impacto que “Children of the Abyss”pode ter na cena do metal brasileiro e internacional?
Somos uma banda de Underground e sabemos o quanto é difícil um trabalho se destacar na cena, afinal, tem muita banda dando vida a excelentes trabalhos.
Contudo, nossa expectativa é trazer algo diferente e alcançar um público que busca algo novo e significativo.
Esperamos que esse álbum abra portas para novos lugares e que possamos fazer muitos shows “espalhando a palavra”.
13. Quais desafios vocês enfrentaram ao longo da jornada desde a formação da banda até hoje, especialmente no que diz respeito à identidade e à proposta artística?
São incontáveis desafios, mas podemos elencar principalmente a dificuldade de encontrar um nicho ou estilo. Parece algo trivial, mas no início era difícil até para conseguir shows.
Houve muito diálogo sobre o alinhamento artístico da banda também. O Fabrício, antigo batera, não era a favor do corpse paint, por exemplo, e o combinado interno era nunca fazer algo que não fosse unânime. Com a saída dele em 2019, chamamos nosso amigo Pablijo e pudemos retomar essa antiga ideia.
Todos os desafios nos auxiliaram a alcançar mais maturidade e esperamos seguir nos desenvolvendo cada vez mais. Em suma, o caminho até aqui foi de muito aprendizado, trabalho e paciência.
O mais importante foi perceber que está tudo bem não “se encaixar” e que as coisas acontecem no seu tempo.
14. Por fim, que legado vocês esperam deixar com a música e as narrativas que criaram ao longo dos anos?
Nosso desejo é que nosso som chegue o mais longe possível e encontre pessoas e lugares onde possa repousar.
As temáticas que trabalhamos são atemporais, frutos de reflexões filosóficas profundas e ressignificações contundentes.
Esperamos que sobrevivam ao nosso próprio tempo e que a nossa caminhada e nossa contribuição deixe uma marca na cena Underground.
Valorizamos demais as bandas que resistem na cena, que sejamos uma delas!
Confira o último Videoclip oficial da banda:
https://youtu.be/4QHwG-QRha0?si=Iitb_Cqzj0Zo9MMX
Entrevista feita por: Bruno Lacerda
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