Entrevista- The Host
Supremacia Rock Entrevista
Publicado em 14/01/2025

Supremacia Rock Entrevista- The Host

Saudações Metalheads, Supremacia Rock Entrevista, The Host, banda de Blackened Death Metal de Minas Gerais!

1. Como a visão inicial de forjar uma identidade musical única se transformou ao longo dos anos e quais elementos de sua sonoridade vocês consideram essenciais para essa identidade?

W.A.R.: Saudações! Hoje em dia, é extremamente desafiador para as bandas construírem uma identidade própria e, mais ainda, criarem algo realmente inovador dentro da cena. Isso se deve especialmente ao fato de que sempre estaremos nos inspirando em nossas influências ou até mesmo correndo o risco de repetir algo já existente, seja de forma inconsciente ou por acaso, considerando o número gigantesco de bandas de metal extremo ao redor do mundo. Sempre haverá influências e semelhanças inevitáveis.

Portanto, nossa visão de identidade própria sempre esteve centrada em fazer um som extremo que soasse coeso e harmônico, sem nos preocuparmos excessivamente com rótulos estilísticos de gênero ou padrões e estruturas pré-estabelecidas de composição musical, mas mantendo pilares fundamentais: peso, agressividade e uma atmosfera sombria e caótica características que definem o Death e o Black Metal.

Ao longo dos anos, nossa identidade evoluiu à medida que incorporávamos experiências vividas, tanto como banda quanto individualmente, inclusive durante o nosso hiato. Esse processo foi mais uma lapidação do que uma transformação completa. As influências diversificadas dos membros dentro do metal ajudaram a moldar um som que, mesmo no vasto universo do metal extremo, acreditamos carregar traços distintivos.

Destacamos aspectos como a abordagem das letras, a fusão entre melodia e agressividade, e os riffs rápidos e complexos que dialogam também com outros mais tétricos e soturnos.

Essas características não apenas nos mantêm fiéis às nossas raízes no Death e Black Metal, mas também nos permitem explorar territórios sonoros que refletem nossa visão e individualidade, ao criá-los e moldá-los à nossa maneira. É nesse equilíbrio entre tradição e inovação que encontramos nossa verdadeira identidade musical.

2. O hiato de 2010 trouxe desafios, mas também novas perspectivas. Quais foram as lições mais valiosas que vocês aprenderam durante esse período de pausa e como isso influenciou a forma como vocês abordam a música hoje?

W.A.R.: A pausa foi involuntária, inicialmente causada pela saída do nosso antigo baterista, que se mudou para outra região. Posteriormente, eu e o guitarrista também nos mudamos para outras cidades, a trabalho ou devido a estudos. No entanto, essa pausa acabou se tornando uma oportunidade valiosa para explorar outros aspectos musicais, especialmente no campo da composição.

Esse hiato funcionou como um momento de reflexão individual e coletiva, permitindo-nos amadurecer tanto como músicos quanto como indivíduos. Particularmente, durante esse período, dediquei bastante tempo a estudar temas variados que considero relevantes para mim e para o The Host, influenciando diretamente as letras das novas músicas. Além disso, a experiência adquirida ao longo dos anos em estúdio e em outros projetos aprimorou significativamente nossa percepção musical e técnica, impactando diretamente a qualidade das produções atuais.

Hoje, entendemos melhor o que queremos alcançar em nossas músicas e como trabalhar nelas para atingir esses objetivos. A produção está muito mais lapidada, cristalina e eficaz.

Essa pausa nos proporcionou o tempo necessário para expandir nossos horizontes e incorporar novas influências dentro do metal extremo, resultando em um retorno mais focado e maduro.

Cada nova composição ou releitura de músicas antigas que ficaram guardadas reflete essa maturidade. Nosso trabalho atual prioriza coesão e autenticidade, fortalecendo ainda mais a identidade musical do The Host. Se antes nossa música era mais impulsiva, agora ela resulta de um processo mais deliberado, alinhado com nossa visão artística e as mensagens que queremos comunicar.

Se teríamos alcançado o mesmo resultado caso nunca tivéssemos parado? Talvez. Mas foi dessa forma que as coisas aconteceram, e acredito que soubemos aproveitar bem essa pausa involuntária que nos foi imposta.

3. No processo de composição do próximo álbum, ARS TENEBRARUM, como vocês equilibram as faixas que foram deixadas de lado com novas composições? Existe um tema central que conecta todas as músicas?

W.A.R.: As músicas de ARS TENEBRARUM não seguem um padrão uniforme em termos de composição, gravação, mixagem ou masterização. Essa variação será perceptível ao longo da audição do álbum, mas sem comprometer a experiência do ouvinte. Esse processo, apesar de desafiador, reflete a origem das músicas, que vêm de diferentes épocas. Consequentemente, algumas soam mais maduras do que outras.

As músicas deixadas de lado durante o hiato foram revisadas e ajustadas para se alinharem ao nosso momento atual. Embora preservem sua essência original, ganharam novos arranjos e camadas que as conectam melhor com as composições mais recentes. Já as músicas novas foram criadas com liberdade criativa, refletindo nossa evolução musical e incorporando elementos mais maduros, tanto liricamente quanto instrumentalmente.

Nosso estilo também evoluiu ao longo do tempo, resultando em faixas que transitam entre o Black Metal, Dark Metal e Death Metal, cada estilo com suas próprias características de composição e execução. Como mencionei anteriormente, não nos prendemos excessivamente a rótulos; nosso foco sempre foi criar metal extremo, caótico e sombrio, algo que estará presente em todas as faixas deste álbum. A gravação contou com muitos convidados, e a maioria gravou seus instrumentos em seus próprios estúdios. A mixagem buscou unificar e equilibrar essas diferentes sonoridades, mas alcançar uma uniformidade total seria impossível, dada a natureza do processo. A masterização trouxe um refinamento final, mas as diferenças entre as faixas permanecem, e isso é algo que abraçamos como parte do conceito e identidade do álbum.

Sabíamos que o resultado seria assim, e por isso tratamos o álbum como uma coletânea que celebra nossa trajetória. Ele conecta desde o EP "War, Chaos and Blasphemies..." até o hiato da banda e um pouco posterior a isso. Na verdade, o álbum reflete exatamente isso: uma celebração da identidade musical do The Host e de sua história. Acreditamos que essa diversidade enriquece o trabalho, apresentando várias facetas da banda ao longo do tempo.

Quanto ao tema central, ARS TENEBRARUM não segue um conceito lírico único e linear, mas as músicas compartilham uma atmosfera comum: a exploração da escuridão em suas várias formas. Essa escuridão é apresentada como um espaço de reflexão, caos criativo e transformação. É uma jornada pelo sombrio, expressa tanto nos riffs agressivos quanto nas passagens melódicas e introspectivas.

Por fim, acredito que o ouvinte encontrará coesão nessa abordagem, e a experiência será tanto surpreendente quanto satisfatória. Essa diversidade é intencional e representa fielmente nossa história, nossas influências diversificadas e a visão artística que moldamos ao longo do tempo.

4. Qual foi a motivação por trás da decisão do The Host de revisitar e reinventar "Blasphemare" após 14 anos, e como a produção atual reflete a evolução da banda em relação a temas controversos que desafiam a fé cristã?

W.A.R.: Revisitar Blasphemare foi uma decisão natural enquanto trabalhávamos no material para Ars Tenebrarum. A faixa sempre teve um significado especial para nós, pois marca um momento de transição no The Host. Na época, estávamos direcionando nosso som para algo mais próximo do death metal, ou, mais especificamente, do Blackened Death Metal, combinando o melhor dos dois estilos: agressividade, peso e atmosfera sombria. Além disso, esse estilo nos oferecia ainda mais liberdade criativa, tanto para explorar outras possibilidades instrumentais quanto para abordar também outros temas, sejam eles mais filosóficos, existenciais, mórbidos ou caóticos.

Percebemos também que seria uma oportunidade perfeita para dar uma nova vida a "Blasphemare", trazendo-a para o presente com uma produção que reflete nossa evolução tanto musical quanto temática.

Essa música, inclusive, faria parte de um álbum que planejávamos lançar na época, mas que nunca foi concluído devido ao término da banda. A versão original de "Blasphemare" era basicamente uma pré-produção do que ela viria a ser futuramente dentro desse álbum. Foi gravada com bateria programada e em condições mais precárias, em um estúdio equipamentos inferiores. A ideia na época era apenas ter um registro da música para, posteriormente, reavaliá-la e trabalhar em sua estrutura, reorganizá-la e regravá-la com as alterações necessárias em um estúdio com melhores condições, para que fosse incluída no álbum. Foi exatamente isso que fizemos agora com a nova versão.

Na verdade, ela nunca foi pensada para uma demo na época; estava prevista para o álbum, mas devido à indecisão sobre o futuro da banda, decidimos lançá-la em uma demo enquanto decidíamos o que faríamos. O objetivo foi apenas manter um registro oficial das músicas, incluindo essa. Quando lançamos a demo Blasphemare, ela teve uma divulgação mínima, sendo disponibilizada apenas para amigos próximos, já que a banda entrou em hiato logo após esse lançamento, o que tirava o sentido de promover o material. Na época, nem mesmo havia uma arte de capa — eu criei uma posteriormente, apenas para dar uma identidade visual à demo.

A nova versão, agora intitulada Blasphemare MMXXIII, vai além da original em termos de profundidade e intensidade. A produção atual, muito mais refinada, realça as nuances sonoras e dá mais destaque às letras, que foram adaptadas para se alinhar a uma abordagem mais direta e impactante. Musicalmente, simboliza nossa capacidade de revisitar nossas raízes, respeitá-las, e ainda assim, transformá-las em algo que soe novo e relevante.

Em relação aos temas, a reinvenção da faixa reflete nosso amadurecimento na maneira de abordar assuntos controversos. Continuamos desafiando a fé cristã e questionando suas imposições culturais e históricas, mas hoje o fazemos com maior clareza e propósito.

Blasphemare MMXXIII não é apenas uma regravação; é um manifesto que reafirma nossa postura artística e filosófica, utilizando a música como um veículo para ideias que, mesmo após 14 anos, permanecem urgentes e provocativas.

Confira AQUI

5. Como a nova versão de "Blasphemare MMXXIII" se insere no contexto sociocultural contemporâneo, especialmente em relação ao diálogo sobre a relação entre religiões e tradições ancestrais, e que impacto a banda espera que essa obra tenha nesse debate?

W.A.R.: Blasphemare MMXXIII insere-se no contexto sociocultural contemporâneo como uma obra que desafia o discurso hegemônico das religiões monoteístas, particularmente o cristianismo, ao confrontar sua imposição perniciosa sobre as tradições ancestrais. Em um momento de crescente interesse pela redescoberta de raízes culturais, práticas espirituais alternativas e pela revisão crítica da história colonial, a faixa oferece uma perspectiva artística que questiona as estruturas de poder que moldaram o mundo moderno.

A letra rejeita explicitamente a simbologia cristã e inverte seus ritos, ilustrando um ritual de profanação que não apenas zomba do que é considerado "sagrado", mas também afirma a resistência às normas impostas por essa religião e suas variantes. Essa inversão atua como uma reconexão simbólica com tradições apagadas ou assimiladas segundo os dogmas cristãos, resgatando valores e mitologias que antecedem o cristianismo.

Entidades são evocadas como arquétipos de resistência, caos e transformação — figuras marginalizadas e demonizadas pela narrativa cristã. Essas invocações não representam apenas um ato de rebelião, mas também um questionamento sobre a natureza do "divino" e do "sagrado" conforme construídos pela igreja. Essa abordagem se insere no debate contemporâneo sobre pluralismo cultural, identidade espiritual e resistência à homogeneização religiosa.

A música é um grito de resistência contra a cristianização, que historicamente apagou ou assimilou tradições antigas, reconfigurando o modo como essas culturas eram compreendidas e vivenciadas. Por meio de imagens fortes e simbolismo direto, ela propõe uma inversão total da liturgia cristã, não apenas para criticar sua dominação cultural, mas também para estimular uma reflexão sobre o impacto da supressão de crenças e práticas pagãs no desenvolvimento sociocultural das sociedades.

Blasphemare MMXXIII não é apenas uma crítica, zombaria ou provocação ao cristianismo, mas também um convite para revisitar a história das interações destrutivas entre ele e as tradições ancestrais, muitas vezes retratadas como primitivas ou malignas. A obra questiona a continuidade dessa supressão cultural e espiritual em nome da subjugação e controle, ao mesmo tempo que exalta a possibilidade de resgatar, ainda que simbolicamente, o que foi perdido ou transformado nesse processo.

Esperamos que a música impacte o debate, não só provocando, mas incentivando uma reflexão sobre como essas dinâmicas históricas ainda moldam as identidades culturais, espirituais e políticas na contemporaneidade.

6. Como as colaborações com artistas como André Damien, Pedro Duarte e Marcela Meguria enriqueceram a nova música "The Origin Through the Void" e o que você espera que os ouvintes tirem dessa experiência colaborativa?

As colaborações de André Damien (Paradise In Flames), Pedro Duarte (Payback) e Marcella Meguria (Libre/Arguerom) em "The Origin Through The Void" trouxeram uma dimensão única à música, com cada um adicionando sua visão e talento à composição. Pedro, que foi membro do The Host por alguns meses antes de se juntar efetivamente ao Payback, participou ativamente da composição dessa música, tendo sido o responsável por trazer a ela uma profundidade ainda mais melódica com seus solos e arranjos, enriquecendo-a ainda mais. André, ao executar os riffs principais, trouxe uma dinâmica maior, acrescentando agressividade e peso, o que complementou perfeitamente a intensidade da música. Marcella, com sua voz lírica e coro, criou uma atmosfera de contraste, equilibrando o “caos” representado por meu vocal gutural com a beleza de sua voz, encaixando-se perfeitamente no contexto de criação, morte, caos, beleza, decadência, destruição e renovação retratados na letra. Esperamos que os ouvintes sintam a fusão das diferentes influências e estilos, experimentando uma jornada sonora rica e multifacetada. A colaboração, em sua essência, amplia a experiência da música, permitindo que cada ouvinte a interprete de maneira única, refletindo sobre os temas profundos e intensos que ela aborda.

7. A expressão artística do The Host aborda temas profundos como escuridão e o caos da condição humana. Como vocês traduzem esses conceitos complexos em música e letras de forma acessível para os ouvintes?

Sou eu quem sempre escreveu todas as letras do The Host, e elas nascem do que me impacta e do que considero relevante no momento. Tudo se baseia no que vivencio, leio e estudo, sempre com o cuidado de refletir as ideias centrais da banda desde sua criação: a rejeição aos dogmas impostos pela religião, principalmente a cristã, o fanatismo advindo dessa religião e suas consequências negativas na humanidade ao longo dos tempos. Geralmente, exploro temas que se relacionam a isso de alguma forma, mas também gosto de abordar questões sobre as condições humanas, o medo, os infortúnios existenciais, a escuridão e o caos interiores. Além disso, história, ocultismo e mitologias são temas recorrentes que me fascinam profundamente. O objetivo, porém, é sempre criar algo autêntico, a partir da minha própria percepção, com o cuidado de não soar repetitivo.

Tento traduzir essas ideias para a música, sem a intenção de agradar a todos ou direcionar uma mensagem clara para alguém. Faço uso também de muitas metáforas para condensar diferentes ideias. E eu nunca terei uma mensagem positiva nas letras, seja ela esperançosa, utópica ou qualquer uma dessas falácias. Afinal, o mundo real não é assim. Muito pelo contrário. O que importa para mim é o realismo cru e frio que nos rodeia; isso é o que é verdadeiro, e essa realidade deve ser encarada e vivenciada. Evito também me influenciar por letras de outras bandas, pois isso me ajuda a manter minha escrita livre e autêntica; por essa razão, raramente acompanho o trabalho lírico delas. Prefiro manter uma identidade própria no que faço, não apenas transmitindo sentimentos, mas também refletindo minhas ideias e percepções na música.

Se, por acaso, a mensagem que estou passando ressoar com o pensamento de alguém ou coincidir com ideias ou sentimentos de outros, espero que a música e as letras toquem quem as ouve de forma genuína, mesmo que de maneiras diferentes. Não busco tornar a música ou as letras necessariamente acessíveis ou fáceis de entender para todos, pois meu processo criativo é sobre expressar aquilo que sinto e vejo de forma sincera e única.

Por fim, escrevo sobre esses temas porque acredito que são parte fundamental da experiência humana, não para passar uma mensagem direta ou agradar a uma audiência específica, mas para capturar na essência a realidade que toca a todos profundamente. A música, em sua forma crua e direta, acaba sendo uma maneira de compartilhar esse universo interno, sem a necessidade de mediá-lo para agradar.

8. Quais são suas expectativas em relação à recepção do ARS TENEBRARUM e como vocês veem a banda se posicionando na cena Metal nos próximos anos?

Em relação ao ARS TENEBRARUM, nossas expectativas são de que ele ressoe com aqueles que compartilham a visão intensa e sombria que sempre buscamos transmitir. Sabemos que o álbum não agradará a todos, e isso não nos preocupa. Fazemos nossa música, antes de tudo, para agradar a nós mesmos, mas ainda assim, esperamos que ele encontre uma audiência que aprecie a autenticidade e a profundidade das nossas composições e letras.

ARS TENEBRARUM reflete nossa evolução enquanto homenageia o que sempre nos moveu: abordar o caos, rejeitar dogmas impostos, mergulhar na escuridão existencial e explorar os aspectos mais profundos da condição humana. Desejamos que ele seja uma jornada imersiva e intensa.

Quanto ao futuro da banda na cena Metal, não buscamos visibilidade comercial, mas sim um fortalecimento contínuo no cenário underground. Nossa principal preocupação sempre foi, e sempre será, criar música verdadeira, sem ceder a pressões externas. Nos próximos anos, esperamos continuar evoluindo musicalmente, mantendo nossa identidade intacta e expandindo nossa base de apoiadores que compartilham os mesmos ideais. A cena Metal tem muitas faces, e nossa proposta é permanecer fiel à nossa visão, conectando-nos com aqueles que buscam algo mais visceral e reflexivo, em vez de seguir as convenções que frequentemente dominam essa merda do mainstream.

9 - Com as redes sociais desempenhando um papel importante na divulgação de música, como vocês pretendem engajar sua base de fãs durante o lançamento dos novos singles e do álbum?

Nunca tivemos um planejamento específico para isso, e até recentemente eu não compreendia completamente como funcionava o engajamento nas redes sociais. Como sou o responsável por gerenciar as redes da banda, consigo estabelecer um padrão de divulgação mais alinhado aos nossos objetivos. Isso talvez não fosse possível caso todos da banda gerenciassem as redes ao mesmo tempo, ou caso elas estivessem aos cuidados de uma empresa de assessoria, por exemplo. No início do The Host, redes sociais como as conhecemos hoje nem existiam; tudo era feito por carta, e eu escrevia quase diariamente.

Depois vieram o Orkut e o Myspace, que também já se tornaram coisa do passado.

Pessoalmente, nunca fui adepto de redes sociais. Minhas contas pessoais sequer têm foto, e só as utilizo para trabalho ou para manter contato com parentes e amigos distantes. Não posto fotos, stories, nem nada do tipo, pois considero isso tudo uma enorme perda de tempo. Contudo, reconheço que, para uma banda atualmente, é indispensável usar essas plataformas para divulgar seu trabalho. Entendo a importância de manter uma frequência consistente de stories e posts, sempre com conteúdo relevante, como resenhas, novidades ou curiosidades sobre a banda.

Outro ponto crucial é cultivar contatos no cenário underground e na mídia especializada. Isso amplia o alcance da nossa música e gera material interessante para compartilharmos com nossos seguidores. A interação genuína com o público também é fundamental. Por isso, nossa estratégia inclui a criação de conteúdos exclusivos, como teasers, bastidores das gravações, interações diretas e prévias das músicas. Queremos que nossos ouvintes se sintam parte do processo criativo, e não apenas espectadores passivos.

Faço questão de sempre agradecer pelas interações e responder a todos os comentários, sejam eles do público ou da mídia. Essa conexão direta é importante para demonstrar nossa gratidão e fortalecer a cena underground. Afinal, imagine um veículo de informação que dedica tempo e esforço para pesquisar, avaliar e divulgar uma banda, e essa banda sequer reconhece o trabalho? Isso desmotiva e enfraquece a cena como um todo.

Por fim, continuaremos investindo nos singles e vídeos, criando conteúdos que transmitam a energia crua e autêntica da banda. Nosso foco será sempre fazer algo que reflita nossa essência, sem perder o contato com quem nos acompanha. Não me preocupo com números ou métricas, pois acredito que esses são resultados naturais de um trabalho honesto e consistente.

O objetivo principal é construir uma comunidade fiel, que compartilhe os mesmos sentimentos e ideias. Queremos que as redes sociais sejam uma extensão natural da nossa música, ajudando a fortalecer os laços com os ouvintes de maneira autêntica, sem seguir modismos ou forçar conexões artificiais.

10. De que forma a fusão entre os estilos do Blackened Death Metal e do Black Metal contribui para a experiência emocional da música, e como você acredita que isso ajuda a transmitir a ideia de criação e destruição presente na letra de The Origin Through the Void?

A fusão entre o Blackened Death Metal e o Black Metal é fundamental para amplificar a experiência emocional da nossa música, especialmente em uma faixa como "The Origin Through the Void". O Blackened Death Metal traz uma agressividade visceral, com riffs pesados, frequentemente rápidos, blast beats intensos e uma estrutura densa, criando uma atmosfera opressiva, quase sufocante. Já o Black Metal adiciona elementos atmosféricos e melodias sombrias, que evocam uma sensação de transcendência e introspecção, ampliando o impacto emocional no ouvinte.

Essa combinação gera uma oscilação entre caos e contemplação, refletindo diretamente a dualidade entre criação e destruição explorada na letra. As passagens mais rápidas e agressivas representam a violência e a imprevisibilidade do ato destrutivo, enquanto as partes mais melódicas e atmosféricas evocam introspecção e a possibilidade de recriar algo a partir do vazio gerado por essa destruição.

Em "The Origin Through the Void", esses contrastes musicais ajudam a transmitir a ideia de que o processo de criação e destruição é inerente à existência – algo simultaneamente brutal e sublime. A música se torna uma experiência imersiva, onde o ouvinte não apenas escuta, mas sente essa dinâmica de forças opostas, como se fosse parte desse ciclo eterno de aniquilação e renascimento.

11. Como a filosofia do eterno retorno de Nietzsche influenciou a composição lírica de "The Origin Through The Void", e de que maneira você espera que essa perspectiva ressoe com os ouvintes na busca por um significado mais profundo na vida?

W.A.R.: A filosofia do eterno retorno de Nietzsche permeia grande parte da letra de "The Origin Through the Void", especialmente ao abordar os ciclos de criação, destruição e recriação. Embora a ideia do eterno retorno não seja a essência total da letra, ela está presente, principalmente na maneira como a letra enxerga a infinita repetição cíclica da existência. Essa visão exige do indivíduo uma aceitação de sua própria existência e destino, mas sem cair na passividade. Pelo contrário, é necessário buscar ser a melhor versão de si mesmo, pois, caso contrário, viver-se-iam eternamente as mesmas misérias.

Pessoalmente, não concordo completamente com a visão nietzschiana. Acredito que a vida, em sua forma atual, não se repetiria. Nossa matéria, sim, se transformaria em algo novo no universo, que por si só também se transforma infinitamente, o que evidência a finitude da vida como a conhecemos em nós mesmos. Ainda assim, a perspectiva nietzschiana está presente desde os versos iniciais, que destacam a vida como uma beleza efêmera, destinada a retornar ao pó e, eventualmente, à recriação.

Ao longo da música, durante essa narrativa lírica, exploro o vazio como ponto de origem e retorno, onde forças de criação, destruição e existência convergem em um fluxo contínuo. O eterno retorno, sob a minha perspectiva, se manifesta na ideia de que o caos oferece a oportunidade de renovação. A ideia de "origem e retorno ao vazio" não é um fim absoluto, mas uma escalada para o entendimento existencial. O caos e a destruição tornam-se necessários e inevitáveis, trazendo consigo o potencial para recriação, compreensão e significado. Essa visão é reforçada pelas imagens poéticas presentes na letra, que conectam o "vazio primordial" à transcendência e à renovação.

Espero que essa visão provoque nos ouvintes uma reflexão sobre a aceitação da vida, da morte e dos ciclos inevitáveis da existência, como eles realmente são. A música busca desafiar a ideia de que a vida precisa ter um propósito final ou uma perfeição transcendental. Como Nietzsche propõe, devemos afirmar a vida em sua totalidade — incluindo seus aspectos sombrios e caóticos. O objetivo não é oferecer respostas definitivas, mas abrir espaço para uma reflexão mais profunda sobre o papel de cada um nesse ciclo eterno.

Além disso, a letra aborda temas que complementam essa perspectiva nietzschiana. Ela critica a arrogância humana ao usar a vastidão do universo como metáfora para nossa pequenez, e a infinitude do tempo para questionar a crença de que somos essenciais para a existência, ou que nossas inquietações possuem relevância cósmica ou atemporal. A letra também aponta como muitas pessoas se refugiam em crenças ilusórias, como a ideia de um paraíso após a morte, algo que vejo como uma fraqueza humana e uma fuga de sua própria essência e condição. Muitos podem interpretar a letra como pessimista, mas eu a considero realista. Ela propõe que aceitemos a imperfeição da vida e da morte, sem ilusões, assim podendo viver o que realmente importa e buscando o conhecimento que realmente agrega.

Reconhecer a finitude e a imperfeição, aceitar o caos e a transformação, e encarar a realidade sem máscaras são, para mim, a verdadeira força do ser humano. O medo da finitude nos enfraquece e nos leva a criar e seguir crenças limitantes, tornando-nos vulneráveis e reféns de mentiras controladoras e promessas vazias. Como Nietzsche disse: "Deve-se ser superior à humanidade, em poder, em elevação da alma, em desprezo."

Concordo, acredito que devemos desprezar a condição humana que se ancora na fraqueza de pensamento e todos aqueles que nela se agarram.

12. Quais são as principais mensagens que você espera transmitir com a letra da faixa, especialmente em relação à crítica das narrativas de transcendência e à aceitação da fragilidade humana diante da vastidão do cosmos?

W.A.R.: A principal mensagem de "The Origin Through the Void" é convidar o ouvinte a confrontar a realidade sem as ilusões consoladoras que frequentemente moldam a percepção humana da existência. A música propõe que aceitemos a fragilidade do ser não como algo que o diminui, mas como uma fonte de força e autenticidade. Diante da vastidão do cosmos e da infinitude do tempo, somos convidados a reconhecer a insignificância dessa espécie, mas é justamente nesse reconhecimento que reside a liberdade de buscar um significado próprio, sem amarras limitantes que poderiam nos tornar marionetes de uma manipulação inútil e sem propósito. E, assim, elevar-nos acima dessa massa subjugada e conformada.

A letra faz uma crítica direta às narrativas de transcendência que prometem perfeição ou paraísos utópicos após a morte. Essas ideias, muitas vezes, servem como uma fuga da realidade, nos afastando da compreensão de que o caos e a finitude são aspectos fundamentais da nossa existência. Em vez de buscar consolo em fantasias, a música desafia o ouvinte a abraçar o caos como uma oportunidade de resistência e renovação, incentivando-o a encontrar propósito na própria existência, mesmo que limitada e imperfeita.

Além disso, a música questiona a arrogância humana ao destacar nossa insignificância diante da vastidão do universo, mostrando que não somos indispensáveis à existência, mas apenas uma ínfima parte dela. Essa crítica não é apenas uma rejeição do ego humano, mas uma tentativa de encorajar uma visão mais honesta e despretensiosa da vida, permitindo que encaremos as verdades existenciais como elementos essenciais do ciclo de criação e recriação.

Por fim, espero que essa reflexão inspire os ouvintes a desafiar suas próprias crenças e a encontrar força dentro de si mesmos, aceitando que a vida é transitória. Mas essa transitoriedade não a torna menos significativa. Pelo contrário, é a imperfeição e a finitude que nos oferecem a chance de sermos autênticos e de criarmos algo que seja verdadeiramente nosso e real.

Confira AQUI

Obrigado pelo tempo cedido para realizarmos essa entrevista!

Nós do Supremacia Rock desejamos todo sucesso para vocês!

W.A.R.: Nós é que ficamos gratos pela oportunidade e pelo espaço concedido pelo Supremacia Rock! Foi um prazer compartilhar nossas ideias e visões, e as perguntas foram muito bem elaboradas, permitindo-me abordar os temas com mais profundidade.

Agradecemos também pelos votos de sucesso e desejamos o mesmo para toda a equipe. O apoio à cena é fundamental, e convidamos todos a conhecerem nossas redes sociais e o canal no YouTube. Fiquem à vontade para nos seguir, apoiar e acompanhar as novidades do The Host!

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